Santo Agostinho considerava que fora tarde amar a Beleza. Não devemos ensinar nossos filhos a amá-la desde cedo?
"Tarde Vos amei, ó Beleza tão antiga e tão nova, tarde Vos amei!", exclamava Santo Agostinho, que pelas lágrimas de Santa Mônica e pelas preces de Santo Ambrósio estava agora convertido.
Admirando a beleza da Criação
Quem nunca viu a cena de uma criança comentando algum animal? Pode ser a força do leão, o voar da andorinha ou a beleza da pequena joaninha. A grandeza do mar e a vastidão do céu. Enfim, todas essas manifestações de encanto são mensagens que nos apresentam valores sobrenaturais, e que pela inocência as crianças captam, mas que tendo uma elevada explicitação sublinham os princípios sobrenaturais que a crianças estão admirando.
Eis então excelentes ocasiões para os pais aproveitarem e gravarem em seus filhos altos valores. Assim:
Pelo "infinito" do céu consideramos a grandeza do Criador!
Pela irresistível força das ondas do mar notamos nossa fraqueza e contingência...
No cuidado da galinha em abrigar seus pintinhos abaixo das asas, o amor da mãe pelos filhos.
No coruscar da pedra preciosa, a limpidez de uma alma pura e santa.
São inúmeros os exemplos, afinal proclama o Salmo 8:
"Ó Senhor nosso Deus, como é grande
vosso nome por todo o universo!
Desdobrastes nos céus vossa glória
com grandeza, esplendor, majestade.
O perfeito louvor vos é dado
pelos lábios dos mais pequeninos, de crianças que a mãe amamenta.
Eis a força que opondes aos maus, reduzindo o inimigo ao silêncio. Contemplando estes céus que plasmastes
e formastes com dedos de artista;
vendo a lua e estrelas brilhantes, perguntamos: ‘Senhor, que é o homem, para dele assim vos lembrardes e o tratardes com tanto carinho?
Pouco abaixo de Deus o fizestes,
coroando-o de glória e esplendor; vós lhe destes poder sobre tudo,
vossas obras aos pés lhe pusestes:
as ovelhas, os bois, os rebanhos, todo o gado e as feras da mata; passarinhos e peixes dos mares, todo ser que se move nas águas.
Ó Senhor nosso Deus, como é grande vosso nome por todo o universo!"
Reavivar a noção do belo e mostrar o horror do feio
Contudo, não bastaria admirar as belezas da Criação. Vivemos em uma civilização e o homem utiliza-se da natureza para fazer arte! Ora, toda ação e atividade requer um juízo e facilmente pode ser deturpado. Explico:
Recentemente pude analisar como monstros e "seres horripilantes" vem tomando espaço em nosso dia-a-dia. Tudo começou quando fui ao supermercado, e ao escolher um produto vi que no rótulo um monstro com chifres e dentes ameaçadores tomava o suco. O mesmo se deu com as bolachas, umas caretas ridículas e estranhas faziam a degustação do doce.
Lembro que na minha época de criança esses "monstrinhos" não estavam nas estantes das lojas, mas apenas nos filmes de terror... Mas hoje elas podem estar nas nossas mesas do café da manhã, e nossos filhos poderão achar delicioso "comer uma cobra", ou beber o suco da "aranha entre as teias"...
Aí é que está o problema, confundir o animal assustador (neste caso a cobra ou monstro com chifres), com a degustação de uma boa bebida. Dessa forma, ao tomar o produto, o juízo do "ser assustador" pode passar por "não é tão feio assim, pois afinal de contas a bebida é boa".
Não seria mais "educacional" utilizar-se da beleza nas propagandas, condizendo o belo com os agradáveis sabores, e assim unindo o bonito ao saboroso direcionar o juízo da criança rumo ao maravilhoso? Por que mesclar o saboroso ao horripilante?
Mas Deus não criou também seres horripilantes?
Entretanto alguém objetará: "mas Deus não criou seres assombrosos?".
Sim, sem dúvida Deus criou animais assim, e ficamos assustados quando vemos aranhas, morcegos e serpentes. Mas consideremos que esses seres também refletem uma mensagem. A beleza não será. Contudo, a noção do pecado que está ligado à serpente nos lembra que o mal nos ronda, e deseja nos atacar: "Porque fizeste isso, serás maldita entre todos os animais domésticos e feras do campo. Porei ódio entre ti e a mulher, entre a tua descendência e a dela. Esta te ferirá a cabeça, e tu lhe ferirás o calcanhar" (Cf. Gn 3, 14-15).
Uma vez me contaram, baseado em alguma leitura ou em uma imaginação muito sensata, que no Paraíso Terrestre a serpente era um animal belo e atraente, mas como foi utilizado pelo demônio como instrumento do pecado, ao ser amaldiçoado por Deus tornou-se detestável e apavorante. Deus não poderia ter eliminado esse animal da face da Terra? Será que não o terá mantido para nos lembrar que somos filhos de Adão, e portanto passíveis de faltas como nossos primeiros pais?
Uma saudável Filosofia da Natureza nos aproxima de Deus
Concluo reflexionando que a partir da Criação e das obras feitas pelo homem podemos nos elevar a Deus, e será uma verdadeira Filosofia da Natureza ou Teologia Natural, com muitas mensagens para nossa vida.
Sigamos o "cantar" de Santo Agostinho descrito em suas "Confissões" e não deixemos para o entardecer da vida a contemplação da Beleza tão nova e tão antiga. Aproveitemos todos os momentos para um salutar aprendizado, lembrando que a educação inicia-se em casa, e é nos pequenos detalhes que vemos a perfeição.
Assim, uma formação que reavive a admiração do belo no dia-a-dia, proporcionará um contato mais próximo com Deus, pois como declarou São João Paulo II, na carta aos Artistas no ano de 1999: "A beleza salvará o Mundo!".
Comentários