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Foto do escritorAmaro Junior

A educação, a correção e a Cruz

Atualizado: 1 de mai. de 2023

A educação de uma pessoa exige, sem sombra de dúvidas, muitos sacrifícios, renúncias e holocaustos e em muitos casos não vemos o resultado imediatamente e um dos principais sacrifícios a serem realizados é a justa correção dos educandos, dos filhos. Vejamos o que São João Bosco diz a este respeito:



"Quantas vezes, meus filhinhos, no decurso de toda a minha vida, tive de me convencer desta grande verdade! É mais fácil encolerizar-se do que ter paciência, ameaçar uma criança do que persuadi-la. Direi mesmo que é mais cômodo, para nossa impaciência e nossa soberba, castigar os que resistem do que corrigi-los, suportando-os com firmeza e suavidade.


Tomai cuidado para que ninguém vos julgue dominados por um ímpeto de violento indignação. É muito difícil, quando se castiga, conservar aquela calma tão necessária para afastar qualquer dúvida de que agimos para demonstrar a nossa autoridade ou descarregar o próprio mau humor. Consideremos como nossos filhos aqueles sobre os quais exercemos certo poder. Ponhamo-nos a seu serviço, assim como Jesus, que veio para obedecer e não para dar ordens; envergonhemo-nos de tudo o que nos possa dar aparência de dominadores; e se algum domínio exercemos sobre eles, é para melhor servirmos.


Assim procedia Jesus com seus apóstolos; tolerava-os na sua ignorância e rudeza, e até mesmo na sua pouca fidelidade. A afeição e a familiaridade com que tratava os pecadores eram tais que em alguns causava espanto, em outros escândalo, mas em muitos infundia a esperança de receber o perdão de Deus. Por isso nos ordenou que aprendêssemos dele a ser mansos e humildes de coração.


Uma vez que são nossos filhos, afastemos toda cólera quando devemos corrigir-lhes as faltas ou, pelo menos, a moderemos de tal modo que pareça totalmente dominada.


Nada de agitação de ânimo, nada de desprezo no olhar, nada de injúrias nos lábios; então sereis verdadeiros pais e conseguireis uma verdadeira correção.


Em determinados momentos muito graves, vale mais uma recomendação a Deus, um ato de humildade perante Ele, do que uma tempestade de palavras que só fazem mal a quem as ouve e não têm proveito algum para quem as merece". (Das Cartas de São João Bosco, presbítero - Epistolario, Torino 1959, 4,201-203 - Séc.XIX)


* * *


Convenhamos que a correção vista por esse ângulo é uma graça, porém exige um enorme sacrifício, pois não é e não pode ser um ímpeto, um impulso, mas sim uma atitude que visa o bem do outro. Isto exige o ato de dizer não a si mesmo, de se impor limites, como também o sacrifício da vontade. Entretanto mesmo exigindo tanto, as correções são necessárias para a formação integral de uma pessoa e muitas vezes não tem um retorno imediato.


Como nem todos estão dispostos a enfrentar estes sacrifícios foi-se criando a pedagogia de não corrigir, de não exigir, de não repreender, ou de fazer tudo isso de maneira errada, impulsiva e encolerizada. Pois assim evita-se que a criança crie antipatias, traumas ou aversões aos educadores. Escolhe-se a via mais fácil, onde não há tensões. E isto fará do educador, do pai, da mãe um companheiro do educando, mas nunca fará deles um mestre! É necessário, pois, pôr um olhar sobrenatural sobre a educação para ver o quanto o sacrifício é essencial para a verdadeira formação.


Neste sentido há um texto da beata Anna Catarina Emmerich que diz o seguinte: “Quando jogaram a cruz no chão, aos pés de Jesus, ele se ajoelhou junto à mesma e, abraçando-a, beijou-a três vezes, dirigindo ao Pai Celestial, em voz baixa, uma oração comovente de ação de graças pela redenção do gênero humano, a qual ia realizar.” (BEATA ANNA CATARINA EMMERICH – Vida e Paixão do Cordeiro de Deus – p. 299). Ora, Jesus estava diante da cruz, que até aquele momento não era senão um sinal de ignomínia, de vergonha e de desprezo, porém Ele não osculava a cruz por isso, Ele não via no sacrifício apenas o sacrifício, mas sim a redenção, a salvação, a possibilidade de conversão e mudança, inclusive daqueles que o abandonaram e o rejeitaram.


Algo análogo deve-se passar na educação. No momento do sacrifício, da correção, da exigência e até da solidão, oscule a cruz, que é sua, oscule a cruz do dominar-se, una-se ao divino Mestre, assemelhe-se a Ele, pois é chegado o momento de participar, em certo grau, da obra redentora de Cristo, aceitando o sacrifício ainda que não se veja o resultado imediato, mas que depois alcançará frutos duradouros.


Educar, inevitavelmente, exige sacrifícios e este exige uma visão sobrenatural, portanto para educar é necessário ter este aspecto sobrenatural e elevado. E isto colocará a educação no seu patamar devido. Não está apto a educar quem não está disposto ao sacrifício e não estará disposto ao sacrifício aquele que não enxerga o real valor da Cruz. Que a educação nos leve, portanto, a uma configuração com Aquele que divinamente nos educou e que com Seu exemplo mostrou que é necessário olhar para o fim e por este fim estar dispostos a abraçar e oscular a cruz que nos levará até ele.

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